Gin
Ter uma garrafa de gin adiada no esconderijo das dores inóspitas, como quem testa o limite da pressão da panela ao lume. Vergar-me para olhar para ela, não como quem a reverencia, mas por ser necessário, dado o local onde repousa inquieta. Então, pensar – ou continuar a pensar – insistentemente sobre a ideia de Liberdade, na catadupa de silêncios que mordem os lábios e se empurram pela garganta a custo. Pontualmente soltar umas palavras isoladas; uns indecisos “Pois.” e uns lacónicos “Vai-te foder!” e o braço ergue-se a agarrar o recipiente translúcido, enquanto os dedos doutra mão lhe rodam a tampa; o desvendar da potencial verdade suprema, ou tão só permitir que o odor fresco do alívio aplaque os sentidos. Tomar uma pose vertical de segurança e tomá-la sofregamente, com o ímpeto de quem tem sede de tudo. O outro lado…
Alexandre Valinho Gigas