A incauta gente que pela Nacional 111 viaje, e pelas terras de Montemor- o – Velho passe, é de imediato engolida pela cimeira imagem de um dos castelos mais antigos das terras lusas. O impacto deste castelo atinge-nos muito pela sua extensão, e pelo estado quase intocado ante a passagem do tempo e das gentes agrestes que ao longo de séculos ali se digladiaram. As muralhas abocanham o olhar no modo como se estendem em decrescente forma, quase tocando a zona dos arrozais , num silente convite à exploração do espaço. Creio firmemente que toda a alma lusa tem em si vincada a paixão medieva, não fosse esta a origem da Pátria. Há todo um imaginário fervilhante que nos desafia quando deparados com as formas muitas dos nossos antepassados, e no que me diz respeito, os castelos exercem em mim um fascínio absoluto. Por uma questão de identidade geográfica, o Castelo de Montemor é para mim de particular interesse, desencadeando múltiplas emoções a cada passagem ou visita. Claro que a noção dos muitos conteúdos históricos adensam as sensações e engrossam o potencial recriativo dos acontecimentos, e não é sem mágoa que quando me encontro entre-muralhas recordo que foi este o espaço de decisão que condenou Inês de Castro à morte , sendo o seu único pecado amar o filho do Rei que ali terá, em conselho, conspirado para o seu brutal assassinato. É de impossível fuga esta viagem no tempo, assim que atravessamos as muralhas e nos deparamos com o interior. Há uma qualquer emergência que se nos nasce e de imediato imaginamos o quotidiano palaciano, as vestes, as danças, os estábulos, as armas, as gentes. É também extraordinário o facto de que o espaço permitia alojar, além dos representantes da coroa, seus servos e vassalos, cinco mil homens armados, em caso de guerra, sendo que a última de máxima referência histórica será sucedido aquando das invasões francesas, tendo o Castelo sido ocupado por Junot e pelos seus soldados. Nunca deixo de ter presente que todo o castelo é antes de mais um espaço de protecção e resistência, pelo que me é sempre impossível um verdadeiro abandono quando lhes cerram as portas.
Texto de Susana Berardo
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