Não lhe conheciam grandes paragens além das que uma rotina ensimesmada providencia. Era também curto de falas nas raras vezes em que a sua presença acontecia ter notabilidade. Apontavam-lhe uma postura avessa à intimidade, por serrado e sisudo lhes afigurar o cenho. Em verdade, pouco sorria, sendo quase episódica e pontual a disposição que tal luminosidade requer. Supunha que o delito maior fosse a mestiçagem, a impureza reconhecida por ambas partes atirava-o para o limbo racial, tornando-o mil vezes maldito. Excepto aquela vez que, numa tarde de habitual deambulação, no discernir do novelo da existência, encontrou um fio condutor diferente enredando-se, a fundo, na descoberta do todo denso que o perfaz. Apurou por fim a sua verdade sabendo-se, desde então, da cor de si mesmo tecelão.
Texto de Susana Berardo
Styling de Leonor Luís
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